Perda auditiva | Podcast DrauzioCast

O Brasil tem mais de 10 milhões de pessoas com surdez. Apenas 9% delas nasceram com essa condição. A grande maioria vai perdendo a audição ao longo da vida. Para esclarecer as principais dúvidas sobre esse tema, recebemos a dra. Milene Bissoli, médica otorrinolaringologista da equipe de urgência e internação do Hospital Infantil Sabará, em São Paulo, e membro da Academia Brasileira de Otorrino Pediátrica.

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Source: Drauzio Varella

Transcrição:

[Drauzio] O Brasil tem mais de 10 milhões de pessoas com surdez.

Apenas 9% delas nasceram com essa condição. A grande maioria vai perdendo a audição

ao longo da vida, especialmente nas últimas décadas. Apesar de a surdez ser relativamente

comum, a gente só toma conhecimento das causas e dos tratamentos possíveis quando essa perda

acontece com algum amigo ou parente próximo. Para esclarecer as principais dúvidas sobre esse tema,

nós vamos receber a dra. Milene Bissoli, médica otorrinolaringologista da equipe de

urgência e internação do Hospital Infantil Sabará, aqui em São Paulo, e membro da Academia

Brasileira de Otorrino Pediátrica. Milene, então vamos por partes.

A partir do nascimento, quais seriam as principais causas de surdez ao nascer?

Por que algumas crianças nascem surdas? [Dra. Milene Bissoli] Na verdade, para

nascer surdo, existem duas condições: podem ocorrer infecções durante a

gestação, infecções da mãe que podem

Acarretar em perda auditiva já dentro do útero;

ou podem ocorrer questões genéticas, ou seja, desde o nascimento há uma formação

inadequada das estruturas da orelha, seja da orelha interna, seja da orelha média, então tanto da parte que faz a amplificação do som,

quanto da parte que faz realmente a transformação da onda mecânica do som

em informação para o nosso cérebro. Seria um “defeito da fabricação”, uma alteração

genética, levando a esse tipo de perda. [Drauzio] Como os pais podem identificar

a surdez? Eu lembro de um filme que eu vi há muitos e muitos anos, em branco e preto,

sobre o problema da surdez em recém-nascido. A mãe é que descobriu a surdez da criança e o pai dizia:

“Não, você está exagerando, é lógica que ela escuta”. Eu lembro de uma cena em que ele abre

uma porta que range e a criança olha. Ele fala: “Olha, está vendo?”.

Mas a mãe falou: “Não, ela olhou porque quando você abriu a porta, entrou a luz”.

Quais são os primeiros sinais

de que a criança tem um problema auditivo? [Dra. Milene Bissoli] Desde que a criança

está na barriga, já há resposta do bebê ao som. Durante o trabalho de parto, por exemplo, uma

das coisas que podemos usar para ver a vitalidade do bebê é aquela buzina. Algumas mães até passaram por isso

no trabalho de parto, você dá uma buzinada e vê a resposta do bebê. Então, a resposta ao som deve estar presente

desde a vida intrauterina. [Drauzio] Com quanto tempo

de gravidez ela deve começar? [Dra. Milene Bissoli] Aos dois, três meses de

gestação, isso já está formado o suficiente. Mas, para perceber a resposta,

o ideal é só no final da gestação. A gente não tem como aferir isso antes. No final da gestação, com som intenso e perto

da barriga, o bebê já pode reagir.

Desde o nascimento, a gente já pode buscar pelos sinais.

A gente tem o teste da orelhinha, que é uma triagem feita na maternidade, determinado por lei.

Mas mesmo alguns bebês que passam no teste da orelhinha podem, sim, ter perda auditiva.

Então, o que é importante estar atento: reação ao som, reação à voz da mãe. A voz da mãe o bebê escuta desde os primórdios,

então o bebê que não reage à voz da mãe precisa ser olhado com carinho essa questão da audição. A resposta aos sons de bater a porta, de alguém falar

quando está na sala para ver se a criança se vira na direção do som, tudo isso,

desde pequenininho, a gente já pode notar. [Drauzio] Explica para a gente o teste da orelhinha. [Dra. Milene Bissoli] O teste da orelhinha

é um teste de triagem, é bem rápido e indolor. É colocado um aparelhinho dentro da orelha da criança para ver a resposta de um tipo específico de célula

que a gente tem na nossa cóclea, na orelha interna.

E quando essas células estão funcionando

adequadamente, elas emitem um som em resposta ao som que é dado. O aparelho joga um som, a cóclea responde

e a gente capta essa resposta. Se isso está funcionando adequadamente,

a gente fala que a criança passou no teste. [Drauzio] Crianças que são filhas

de pai ou mãe surdos têm mais risco de nascer sem conseguir ouvir? [Dra. Milene Bissoli] Sim. A gente tem uma causa

importante de surdez que é a surdez genética. Então, uma vez que a gente não tenha descoberto

a causa da surdez do pai ou da mãe ou a gente saiba que seja uma surdez genética, a criança, sim, tem uma chance aumentada.

A maioria dos casos de surdez genética são o que a gente chama de herança recessiva. Geralmente a gente vai encontrar

algum outro caso mais distante na família.

Se for o pai ou a mãe, aumenta bastante

a chance da criança ter problema auditivo. [Drauzio] Claro que nesses casos, só se o pai

ou a mãe tiverem surdez desde o nascimento. Se desenvolvem a surdez no decorrer da vida,

não tem como passar para os filhos, né? [Dra. Milene Bissoli] É. Essa surdez

que a gente chama de genética congênita, geralmente está presente nos pais desde

o nascimento. Existem outras causas de surdez progressiva que podem acontecer também,

que são mais raras e podem ser transmitidas. [Drauzio] Milene, e a criança que nasce

com audição plena e acaba desenvolvendo surdez por doença? Quais são as principais? [Dra. Milene Bissoli] Logo ao nascimento,

a gente tem algumas causas de perda auditiva. Por exemplo, crianças que tiveram parto prematuro

e precisam ficar um tempo prolongado na UTI. O uso de antibióticos no período logo após o nascimento

é um fator importante para a perda auditiva. Se a gente tem problemas no parto,

como a falta de oxigênio,

Também é uma causa de perda auditiva.

Infecções no início da vida, principalmente meningite. Meningite no Brasil é uma das principais causas

de surdez adquirida em qualquer faixa etária, mas principalmente nas crianças. Traumas bem extensos também

podem causar perdas auditivas. E na infância a gente tem algumas causas de surdez temporária. Então, por exemplo, se a criança está com uma otite,

naquele momento, eu posso garantir que ela não está escutando bem. Ela não está totalmente surda,

mas ela tem uma diminuição da audição. Isso é um fator importante na infância. Cada episódio de otite sempre

vai cursar com uma diminuição da audição e, se isso for recorrente, pode afetar o

desenvolvimento da fala dela, por exemplo. [Drauzio] É possível confundir a perda auditiva

com a falta de atenção da criança? “Ah, ela não presta atenção, por isso que ela

não respondeu quando eu chamei”.

[Dra. Milene Bissoli] É uma questão bem interessante.

Para perdas mais leves, por exemplo, às vezes acontece isso. O pai acha que “não, ele está só desatento”,

e a mãe diz “não, ele não escuta bem”. Na dúvida, é importante avaliar a audição.

É uma coisa que é relativamente simples de resolver, você diagnostica a perda auditiva,

vê qual é a causa e trata, e a criança tem uma funcionalidade normal. Mas, infelizmente, a gente tem uma taxa de diagnóstico

de perda auditiva no Brasil ainda muito tardio. Mesmo com o teste da orelhinha, esse diagnóstico tardio

pode influenciar em todo o decorrer do desenvolvimento da criança. [Drauzio] E nessas casas barulhentas que ficam com

a televisão ligada em um volume alto ou ambientes barulhentos de um modo geral, isso pode causar

perda auditiva na criança a médio e a longo prazo? [Dra. Milene Bissoli] O ruído é a principal

causa prevenível de perda auditiva. Na criança, na parte do desenvolvimento da fala,

o ruído é muito ruim. Além de pensar na perda auditiva a longo prazo,

claro que varia de acordo com a intensidade e volume do ruído,

Mas uma criança que está aprendendo a falar não consegue

separar a voz da mãe, do pai, da pessoa que está cuidando dela, do barulho da máquina de lavar ou da televisão, por exemplo. Eu atendo muitas crianças que têm um atraso de fala e,

a primeira coisa que a gente indica é desligar tudo na casa, deixar a televisão desligada, ir brincar

com a criança em um ambiente silencioso. A criança não sabe separar o que é ruído de

fundo e o que é o som que interessa. Essa é uma capacidade cerebral adquirida e consolidada

só a partir dos 7 anos, de uma maneira geral. Então, para a criança pequena, o ambiente

silencioso, não só pensando a longo prazo mas naquele momento presente, é importante

para o bom desenvolvimento da fala também. [Drauzio] E o cotonete que muitas mães usam

para fazer uma boa higiene na orelha da criança? [Dra. Milene Bissoli] Eu li esses dias

uma coisa muito engraçada, um meme de um amigo otorrino falando que “milhares

de otorrinos falando uma coisa não conseguem combater uma propaganda”.

É muito engraçado isso.

A gente não precisa limpar o ouvido. O risco da gente usar o cotonete é acabar acumulando

mais cera e empurrando-a para dentro da orelha, além de poder machucar. A criança se vira, se mexe e a gente pode ter trauma com sangramento no conduto auditivo

e, às vezes, até na membrana timpânica. Então, não vale a pena, não precisa. [Drauzio] E nas crianças um pouco mais velhas

e até nos adolescentes, essa coisa dos fones de ouvido que, às vezes, você passa a 10 metros e

escuta a música que eles estão ouvindo ali direto? [Dra. Milene Bissoli] Isso é perigosíssimo.

A gente tem alguns dados que até são dados um pouco antigos, da década passada, dados americanos, de que

um em cada seis adolescentes têm perda auditiva pelo ruído. E essa é uma perda que a gente não consegue reverter. A gente não tem nenhum tratamento

para recuperar essas células perdidas.

Então, o fone de ouvido, principalmente se usado

em um volume muito alto, é muito prejudicial. E a gente sempre fala: no máximo,

na metade do volume máximo e fazer intervalado, não usar o fone de ouvido a tarde inteira, porque isso vai levar a uma lesão irreversível das células

da cóclea em grande parte desses adolescentes. [Drauzio] Eu gostaria até que você repetisse.

Quantos adolescentes? Um em cada quantos? [Dra. Milene Bissoli] Um em cada seis. Esse é um estudo

americano de 2005 ou 2006, se não me engano, e, naquela época, em que a gente tinha

menos fones de ouvido do que a gente tem hoje, um em cada seis tinham perda auditiva. [Drauzio] Quer dizer, é a perda auditiva naquele momento,

na adolescência ainda, não dali a 10 ou 20 anos. [Dra. Milene Bissoli] Não. É naquele momento.

E a perda pelo ruído tem uma característica de que ela não melhora. Uma vez que você perdeu,

você confirmou essa perda, ela não melhora.

[Drauzio] E essa perda auditiva que

vai acontecendo no decorrer da vida? Ela costuma ser gradual?

Década por década vai aumentando, ou ela pode acontecer abruptamente,

de uma hora para a outra? [Dra. Milene Bissoli] Existe uma entidade que a gente

chama de surdez súbita que é exatamente isso: está tudo bem na sua vida, de repente, de uma hora pra outra,

perde a audição de um lado ou dos dois. As causas disso são diferentes da perda pela idade. Quando a gente fala em perda pela idade, a gente está falando,

geralmente, de uma questão gradual mesmo. E aí, a gente tem também uma questão bem importante,

pensando nesse aumento da expectativa de vida, eu sempre brinco que pras pessoas da minha geração em diante,

a gente vai chegar aos 90, 100 anos. A gente não tem dúvida do “se”,

a gente tem dúvida do “como”. E a perda auditiva é um fator importantíssimo

para a função cognitiva. Então, as pessoas que têm perda auditiva aos 50 anos

vão performar pior no desempenho cognitivo aos 80 e aos 90.

É uma perda geralmente gradual, em que a pessoa não se importa,

porque funcionalmente aquilo está ok. Mas, com o passar do tempo,

isso vai afetando a conexão dentro do cérebro, e isso gera problemas cognitivos não só

na parte da audição, mas no cérebro como um todo. [Drauzio] E por que essa perda da audição

acontece com a idade quase que inexoravelmente? [Dra. Milene Bissoli] Acima dos 80 anos, duas

em cada três pessoas vão ter perda auditiva. [Drauzio] Repete esse número, por favor. [Dra. Milene Bissoli] Dois em cada três, acima dos 80 anos. É bastante gente. Por que isso acontece?

Por perda de células, por questões vasculares, toda a questão de irrigação de tecidos é uma questão

do envelhecimento como um todo, por questões genéticas, então é uma somatória de fatores que vai

levar a uma piora da função auditiva no decorrer da vida. [Drauzio] E é possível prevenir essa perda? Ou, pelo menos,

diminuir o risco de que ela aconteça rapidamente?

[Dra. Milene Bissoli] O que a gente consegue fazer

de prevenção de perda auditiva hoje é ruído. De uma maneira bem categórica, o que a gente consegue fazer

é diminuir a nossa exposição ao ruído, então é essa questão do fone de ouvido,

a gente evitar ambientes barulhentos. Por exemplo, vai para um show, uma balada,

quando a gente puder voltar a fazer isso um dia, quem sabe, sempre pensar em sair do ambiente por um tempo. A cada uma hora tentar sair do barulho

mais intenso para depois voltar. Não usar o fone de ouvido, não aumentar muito

o volume do som no carro. Essa é a prevenção que a gente tem

para fazer no dia de hoje. Cuidar das doenças que a gente vai desenvolver

no decorrer da vida, evidentemente. Mas não tem nenhum medicamento, nada aprovado,

que diminua o risco de perda auditiva. [Drauzio] Você estava falando e eu estava lembrando

de uma vez que fui ao ensaio de uma escola de samba. Eles colocaram a bateria em um volume absurdamente alto

Que eu fiquei tampando os ouvidos com a mão,

eu não tinha levado nenhum protetor. E, no dia seguinte, eu estava meio surdo.

Eu senti que eu ouvia mal. Na verdade, sentia até um pouco de tontura. E, depois de alguns dias, eu já estava bem melhor.

Qual é a explicação para essa perda tão súbita? [Dra. Milene Bissoli] Sempre que a gente tem

uma exposição ao ruído, a gente vai ter o que a gente chama de

estresse oxidativo nas nossas células. Nesse momento, a gente tem uma chance

dessa perda não ficar permanente. A maioria das pessoas que já foi a um show,

a uma escola de samba, a uma balada chega em casa e, na hora de dormir,

sente aquele zumbido, aquele barulho lá no fundo. É o que a gente chama de perda auditiva

transitória pelo estresse oxidativo, em que a célula consegue,

de algum jeito, se recuperar. Se a gente tiver uma perda persistente

ou se isso for frequente,

A célula não dá conta de eliminar esses radicais livres

de dentro dela e a gente tem uma perda definitiva. [Drauzio] Me diz uma coisa: qual é o tipo de som

que provoca mais perda auditiva? Sons graves, sons agudos? [Dra. Milene Bissoli] Na verdade, é a intensidade,

é o volume do som que vai interferir diretamente. Mais o volume do que o tipo, do que a frequência. [Drauzio] Quando você diagnostica

uma perda auditiva? Primeiro, como é que você faz o diagnóstico? A pessoa fala: “Eu acho que estou escutando mal”. Alguns desses têm realmente uma perda auditiva, outros não. Como é que você diferencia? [Dra. Milene Bissoli] Tem um exame que chama audiometria,

o mais indicado para a gente avaliar a audição. Quem faz o exame é sempre um fonoaudiólogo,

depois que a pessoa passou num otorrino,

A gente tem que ver se, de repente,

ela não tem uma cera ou alguma coisa. Faz a audiometria. E a audiometria dá um gráfico da audição da pessoa. É muito interessante, porque ela distribui as frequências, que seriam

os sons graves e os sons agudos, como as notas do piano; e a intensidade que é o volume.

Pra cada frequência que a gente escuta, pode ter uma intensidade diferente.

A gente pode ter, por exemplo, os sons graves preservados e uma perda só nas frequências agudas.

E a audiometria vai te dar essa resposta. [Drauzio] E aí quando você diagnostica

a perda auditiva pela audiometria, como é que você encaminha o tratamento? [Dra. Milene Bissoli] Aí vai depender do tipo de perda.

A gente pode ter o que chamamos de condutiva, que é uma perda do sistema de amplificação do som que é,

por exemplo, a perda da otite média na criança. A gente tem um catarro atrás do tímpano e isso impede

que o som se amplifique adequadamente. Ou a gente tem a perda do tipo sensório-neural

que é a do ruído, por exemplo, que leva as células da cóclea

E a cóclea não consegue transmitir

o som para o cérebro, ou problemas no nervo auditivo.

Então, a audiometria dá isso. Seriam as causas mais comuns dos tipos de perdas. [Drauzio] E quando é que você recomenda

o uso de um aparelho auditivo? [Dra. Milene Bissoli] Olha, a partir do momento

que a gente fez o diagnóstico de perda auditiva e que seja uma perda auditiva que a gente não tenha

um tratamento cirúrgico, por exemplo, eu recomendo aparelho auditivo

no minuto seguinte porque a perda auditiva em si no longo prazo

vai acarretar problemas. Eu tenho estudado muito essa parte

da função cognitiva e tudo mais, então, se a pessoa puder usar o

aparelho auditivo assim que ela tiver uma perda que a gente sabe que está estável, já vale a pena.

A gente não precisa fazer o cérebro “sofrer”. É mais ou menos que nem os óculos: eu uso óculos

ou lente de contato, consigo passar um dia sem óculos,

Mas meu dia é muito mais difícil.

Meu cérebro precisa fazer um esforço muito maior para chegar no final do meu dia.

Com a audição é a mesma coisa. A gente não precisa esperar um nível determinado de audição

para fazer um teste com aparelho auditivo, por exemplo. [Drauzio] Por que existe esse preconceito das

pessoas em relação ao aparelho de audição? Porque você vai ao oftalmologista,

ele diz: “vou te dar uma receita de óculos”. As pessoas vão à farmácia, vão à ótica, compram uma armação

charmosa e usam óculos com toda a tranquilidade. E na hora de colocar um aparelho para audição

é uma restrição grande. [Dra. Milene Bissoli] Essa é uma excelente questão

e é realmente um problema que a gente esbarra: no preconceito das pessoas em usar o aparelho auditivo. Eu tenho bastante esperança que

divulgando mais essa questão da importância da audição no funcionamento do cérebro no longo prazo,

a gente consiga reverter um pouco isso. As pessoas pensam: “Ai, aparelho auditivo

significa que não sou mais tão jovem”.

No Brasil, tem muito essa preocupação

com a aparência, aparentar sempre ser jovem, mas acho que isso tem mudado um pouco.

É muito importante a gente divulgar essas questões: o quanto não escutar bem pode te prejudicar no

decorrer da vida, até em questão de isolamento, depressão. A pessoa, às vezes, até desiste de falar,

porque ela fala alguma coisa, a pessoa responde ela não entende e vai se fechando.

O aparelho traz isso de volta, é muito bonito. [Drauzio] Esse é o preconceito da pessoa

contra usar o aparelho. E o preconceito das outras pessoas

com as pessoas que estão surdas parcialmente? Se você diz: “Fulano de tal é cego”.

Todo mundo tem a maior consideração, ajuda. Quando você diz que está perdendo a audição,

que ouve mal, ninguém tem paciência com quem ouve mal. Está errada essa minha impressão? [Dra. Milene Bissoli] Não, acontece mesmo. A gente fala que a surdez é uma deficiência invisível,

porque a pessoa passa e você não vê nenhuma dificuldade nela.

“Mas por que essa pessoa não está me respondendo?

Por que essa pessoa não me entende?” Eu não sei explicar exatamente porque isso acontece, mas a gente vê muito no dia a dia.

Com mais conscientização e mais espaço para falar sobre perda auditiva,

eu espero que isso possa mudar. [Drauzio] Especialmente porque a faixa da

população que mais cresce no Brasil é aquela que está acima dos 60 anos. Nós vamos ter cada vez mais deficientes

auditivos na vida cotidiana. [Dra. Milene Bissoli] Sem dúvida. É uma questão importantíssima

e é muito legal ter espaço para falar disso e tentar desmistificar um pouco isso também. [Drauzio] Eu vejo, às vezes, que tem uma pessoa que escuta mal

e ela escuta melhor quando você fala de frente para ela, porque aí ela lê um pouco dos seus lábios também.

E as pessoas não têm paciência de fazer isso. Falam pelas costas do outro e se irritam

por ele não ter entendido o que foi dito.

[Dra. Milene Bissoli] E uma coisa que é legal é assim:

para a pessoa que tem deficiência auditiva, vale aquilo que eu falei para a criança, que o cérebro

não consegue separar o que é ruído do que é a voz. Para a pessoa que tem deficiência auditiva

ou para um idoso que deveria colocar o aparelho, mas não coloca, ou mesmo que colocou o aparelho

mas ainda não está bem adaptado, é muito importante falar de frente e, sempre que possível, no silêncio.

Porque o cérebro vai perdendo essa capacidade de separar o que é ruído e o que é a fala.

Essa é uma dica bem importante também. [Drauzio] Milene, para a gente terminar,

fala agora sobre o implante coclear. Quando ele está indicado?

De que maneira deve ser usado? [Dra. Milene Bissoli] O implante coclear

é uma tecnologia diferente. O aparelho auditivo é como se aumentasse o volume do ambiente,

como se fosse uma caixa de som que aumenta o volume. O implante coclear está indicado para os casos onde

o aparelho auditivo não dá conta da perda da pessoa. A perda tem que ser realmente muito importante,

Aquela pessoa que não escuta nada,

nem com aparelho, o aparelho não dá conta. Ele é um eletrodo que vai “substituir” a função da cóclea. É implantado cirurgicamente na cóclea,

no “caracolzinho” da cóclea, e vai estimular diretamente o nervo auditivo.

Então, a qualidade de som é diferente, mas ele restaura a audição para as pessoas que

têm uma perda muito profunda, muito importante, ou, por exemplo, para essas crianças que nascem surdas.

Quando a gente faz um implante precoce, elas têm um desenvolvimento da fala, leitura e

escrita normal, depois do período de adaptação. [Drauzio] Ele é indicado em que casos? [Dra. Milene Bissoli] Em casos de surdez profunda bilateral. [Drauzio] Os resultados costumam ser bons? [Dra. Milene Bissoli] Os resultados são bons. Não é simples, porque a pessoa vai precisar

de um acompanhamento fonoaudiológico para a vida

Porque o implante precisa ser ajustado

de tempos em tempos. Mas os resultados são muito bons. Tem pacientes que, por exemplo, conseguem uma coisa

que a gente considera muito difícil que é falar no telefone, porque não tem a pista visual,

não consegue fazer uma leitura orofacial. Eu atendi um paciente, tem umas duas semanas,

que é implantado e a gente estava de máscara. Eu estava de máscara, ele estava de máscara

e o acompanhante de máscara. E a consulta fluiu normalmente.

A gente considera isso um sucesso total. [Drauzio] Milene, e quando eu vejo esses carros que passam?

O cara está a 300 metros de você, virando a esquina e você está ouvindo aquele som

batendo o tempo inteiro. Esse som todo destrói células auditivas na

pessoa que está ouvindo, dentro do carro? [Dra. Milene Bissoli] O som alto sempre tem

um potencial de causar uma lesão celular irreversível. Quanto maior o tempo de exposição, maior o risco.

Então, por exemplo, a pessoa está nesse carro. Ficou meia hora, uma hora, duas horas

dentro desse carro com esse som intenso. Aí ela sai do carro e fica com um

barulho, com aquele zumbido. A gente sabe que houve uma lesão celular sim, certo? Se essa lesão vai ser persistente ou não,

a gente não tem como saber naquele minuto. Por isso que a gente pede para evitar,

porque você não tem como prever, não tem como se prevenir de outra forma. Então, esse zumbido depois de uma exposição ao ruído indica uma lesão celular, a gente não sabe

se ela vai conseguir ser reparada ou não. [Drauzio] E, pra encerrar, vamos resumir os conselhos para as pessoas manterem uma audição

na melhor condição possível pelo máximo de tempo. [Dra. Milene Bissoli] Eu acho que a melhor dica que eu posso dar,

o melhor conselho, é: não se exponha a ruído.

Se exponha ao ruído somente que for muito necessário

e pelo menor tempo possível. No dia a dia, evitar ruídos altos, evitar som alto em casa,

no trabalho, no fone de ouvido, no lazer, porque a gente não tem como

reverter a perda pelo ruído. Então, de tudo que a gente pode fazer pela nossa audição,

cuidar da exposição ao ruído é o mais importante. [Drauzio] Muito obrigado, Milene. [Dra. Milene Bissoli] Muito obrigada pelo convite. Fico muito honrada mesmo, fico muito feliz. E espero que ter contribuído um pouquinho aí. [Drauzio] Ajudou bastante. Pode ter certeza. Se você gostou dessa conversa com a dra. Milene Bissoli, no nosso site temos mais de 100 episódios

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Todos disponíveis nos principais agregadores de podcasts. Muito obrigado. Esse programa foi editado pela Estalo Podcasts.

25 Comentários:

Wesley Roberto

Excelente! Além da recomendação de procurar uma consulta médica logo que surgirem os sintomas de surdez, é bom deixar as pessoas cientes que o SUS tem um programa que auxilia na aquisição dos aparelhos auditivos. São aparelhos muito caro e o processo demora, portanto se você precisa, vá atrás pois vale muito a pena.

Iacy Fontes

Dr Drazio Varella e sua equipe são é sua equipes são ótimos profissionais!

Maria da Conceicao F. Marques Marques

Parabens ,dr. Drauzio por favor continue está sendo muito útil para mim estes podcast, aujude-me a entender sobre a relaçao perda auditiva x funçáo cognitiva,q Deus o ilumine.

Vania Guerra

boa noite Dr. Dráuzio! Tenho uma amiga, que mora comigo, que só tira o fone de ouvido , sem fio, para tomar banho. Passa as 24 horas do dia ouvindo lives, entrevistas etc. Inclusive à noite..Já é bem perceptível a perda auditiva. Tem 63 anos…já conversei muito sobre isso mas não tem jeito… Uma verdadeira auto destruição. Triste isso..

Luiz Gustavo Menchini

Muito bom . mostrei para as minhas filhas elas ficam muito tempo com fone de ouvido.

Letícia Primo

Obrigada pelas informações!

Iacy Fontes

Com quantos anos uma pessoa pode perder a audição, com quantos anos de vida?

Leila Paulo

Minha mãe ficou surda apos um AVC a vinte cinco anos atrás. Ela pode ficar mais surda ao passar dos anos?

Raul Bega

E eu aqui, ouvindo esse podcast com o fone de ouvido no talo

Guilherme Donadel

Pode falar sobre zumbido nos ouvidos(tinnitus)?

Sideval Bahia

Ótimo vídeo

Rita Estima

Excelente!!!

Claudia Lucindo

Boa noite eu fiquei parcialmente surda aos quartoze anos, ñ descobriram a causa, mas meu pai tinha surdez e tenho uma irmã tbm q tem a surdez, será que é genético?

KEILA OLIVEIRA DA SILVA RIBEIRO

Importantíssimo

Fabio

Boa noite!!
Meus pais reclamam pôr eu falar muito alto!
Falar alto é um sintoma de perda auditiva?

Palmerio Ribeiro

É DR.E QUANDO A GENTE ADQUIRIR ESSA PERDA EM UMA MOMENTO DA VIDA MUITOS DUVIDAM ,ESTOU A VINTE ANOS COM ESSE PROBLEMA E FICA DIFÍCIL DE VC PROVAR, MINHA PERDA E NO OUVIDO ESQUERDO É UMA PERDA SEVERA , MEU OUVIDO PULGA ,JÁ FIZ VARIOS EXAMES E ATÉ HJ NÃO CONSEGUIR UMA CIRURGIA, ESTOU AFASTADO DO MEU TRABALHO POR QUE É UMA ÁREA DE ALIMENTAÇÃO ,E NÃO POSSO VOLTAR A TRABALHAR ATÉ POR QUE A FIRMA NÃO ACEITA

Siarnaq

Meu pai tem perda severa de audição em um dos ouvidos e não usa aparelho nem se for benzido pelo próprio Jesus Cristo. O jeito é falar alto e olhando pra ele, mas confesso que às vezes sinto pena, pois ele se sente muito deslocado nas conversas, principalmente quando a pessoa fala rápido.

Jânio Oliveira

FALE DE CHIADEIRA NO OUVIDO ZUMBIDOS INTENSOS

Carlos Henrique Mazocatto

Tinha perdido um pouco no som agudo no direito que não incomodava apareceu carne esponjosa no nariz e é afetou o direito e no esquerdo tbm.
Fiquei até deprimido

Elenice Lê

Hoje em dia, com o uso da máscara, ficou mais complicado.

rosana melo

Tenho 53 anos comecei a sentir um incômodo e zumbido no ouvido esquerdo. Procurei otorrino e receitou antibiótico, não encontrando alteração. No final do ano passado senti piora procurei outro médico que constatou perda a nível celular, sem causa definida. Recomendou aparelho mas não estou usando. Posso perder mais essa audição sem usar o aparelho?

Ana Cranes

Uma coisa que eu não entendo é porque libras não é uma linguagem universal. Porque são símbolos diferentes entre países

Paulo Felipe da Silva Oliveira

Perda auditiva e progressiva?

Mariana Teixeira

Muito interessante, mas é bem difícil sacrificar o prazer de ouvir uma boa musica alta no fone. Prefiro enfrentar as consequências.

shinsuke Davis

Salve

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